sábado, 12 de setembro de 2009

Crise! Que crise?

A tecnologia na música avançou muito nos últimos dez, quinze anos. Tanto a forma de se fazê-la quanto a de se ouvi-la mudaram drasticamente, e o principal reflexo disso é a crise da indústria musical.

É importante enfatizar bem isso: a crise é da indústria, das empresas que sempre lucraram de forma abusiva comercializando meia dúzia de artistas. Agora, a crise não é nem nunca foi da música. Na verdade, nunca se fez nem se ouviu tanta música quanto hoje.

O mercado da música hoje em dia é outro, radicalmente diferente do que costumava ser. O mainstream sempre foi o reino de alguns artistas escolhidos a dedo (nem sempre por razões musicais) por gravadoras multinacionais, preparados para serem degustados pelo mercado e descartados em seguida. Havia grandes investimentos buscando grandes lucros, com estúdios e equipamentos caros e técnicos especializados, as únicas formas de conseguir bons resultados nas gravações. Além disso, grandes investimentos em divulgação e em muitos países, como o Brasil, gastos maiores ainda com “divulgação” – ou seja, jabá. Mas tudo isso buscando um sucesso momentâneo, um hit que viesse e fosse logo esquecido para dar lugar ao próximo.

A forma como as mudanças atingiram este esquema foi devastadora pela própria natureza da relação entre a música comercial e seu consumidor: é música descartável, e será apreciada da forma mais descartável possível – ou seja, se as pessoas puderem evitar comprar CDs neste contexto, evitarão.

Diminuir o lucro baixando preços, ou incluindo diferenciais aos CDs para torná-los mais atraentes, nem pensar. As soluções encontradas pelos dinossauros das multinacionais para resolver a crise são perseguir quem compartilha arquivos como se fosse um assaltante, encomendar a políticos com o rabo preso leis que tentem coibir a livre circulação de zeros e uns – que são a única coisa que existe na internet e em qualquer mídia digital – e continuar lançando lixo descartável. Esta estratégia obviamente está fracassando, mas nem assim as empresas parecem dar sinais de largar o osso, e aceitar que não há solução para o seu problema. Não há caminho de volta no tempo.

Interessante é comparar isto com as possibilidades que estas mesmas mudanças, esta crise, apresentam para o Metal, assim como para outras formas mais underground de música. O estilo tem seus representantes dentro do esquema das grandes gravadoras, como por exemplo o Iron Maiden, rentável artista da EMI desde o primeiro LP, há quase trinta anos, e o Metallica, que tomou a frente da briga ridícula da indústria com o Napster há alguns anos, e se queimou com os fãs. Mas no geral, sobrevive de forma independente, andando pelas próprias pernas.Claro que esta independência sempre significou falta de dinheiro, o que limitava gravemente a qualidade dos registros e a divulgação e distribuição do que se conseguia gravar.

Hoje, gravar com qualidade é barato. A internet é o melhor canal de divulgação que se poderia imaginar. O cenário é propício para a criatividade e o surgimento de novas bandas. O problema, naturalmente, é que quanto mais gente aparecer, mais gente ruim vai aparecer. Mas isso não é nada comparado às possibilidades que se tem. Alia-se a isto o fato de que o ouvinte do Heavy Metal em geral gosta de comprar CDs, e continua comprando. É um colecionador que não encara a música que ouve como um produto descartável, mas como algo duradouro que merece ser conservado.

Sendo poucos os fãs, as vendas não serão astronômicas, mas nunca deixarão de existir.

Nestes moldes, não haverá alguns poucos ganhando muito dinheiro, mas muitos ganhando pouco. Talvez pouco até demais, mas para os artistas no Metal, nada muda: tanto antes como agora, dificilmente conseguiriam viver exclusivamente da música (isto se aplica a músicos brasileiros e estrangeiros). Agora, ao menos conseguem ser ouvidos.

Mas isto depende, é claro, da disponibilidade do público para o novo: é fato que muitos fãs preferem continuar ouvindo sempre as mesmas bandas, sem dar oportunidade a artistas diferentes. Infelizmente, isto minimiza os efeitos revolucionários que as novas tecnologias poderiam ter na cena como um todo, e faz com que o underground às vezes acabe parecendo nada mais que um mainstream miniatura, onde meia dúzia vende razoavelmente bem e isto é o bastante para que tudo gire em torno do dinheiro (vide o post do André, sobre o Business Metal).

Os dias gordos para as grandes gravadoras e seus artistas-produto acabaram e não vão mais voltar, não adianta espernear. Agora é uma época onde é possível fazer música principalmente por satisfação artística, com qualidade. Mas aproveitar este potencial de forma plena é algo que está nas mãos do público. É só uma questão de manter os ouvidos abertos.

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