terça-feira, 27 de setembro de 2011

Sonic Youth de volta ao Brasil

O Sonic Youth, uma de minhas bandas favoritas, volta ao Brasil pela quarta vez no dia 14 de novembro de 2011, no festival SWU. Aproveitando a ocasião, mantenho-me como colaborador relapso deste blog e desovo outro texto antigo e inédito, também feito originalmente para o extinto fanzine Choose Your Side. No caso, é uma crítica ao CD Sonic Nurse, escrita há sete anos. Mantenho o formato original pedido pelo editor Fábio Carvalho, com nota, lista das músicas e o que acho mais importante, o formato de mídia utilizado - uma edição de MP3 vazada na web ou em vinil podem ter músicas a mais, ou a menos, etc. Quanto ao Sonic Youth hoje em dia, é uma rara banda com mais de trinta anos de carreira ininterrupta que se manteve produtiva e criativa, estando de volta à independência, lançando discos tão bons quanto antigamente pela gravadora Matador Records.


Banda: Sonic Youth
Álbum: Sonic Nurse
Nota: 9,9
Ano: 2004
Gravadora: Geffen/Universal
Origem: Edição nacional do Cd

01 – Pattern Recognition
02 - Unmade Bed
03 – Dripping Dream
04 – Kim Gordon and the Arthur Conan Doyle Hand Cream
05 – Stones
06 – Dude Ranch Nurse
07 – New Hampshire
08 – Paper Cut Exit
09 – I Love You Golden Blue
10 – Peace Attack

Existem bandas que nunca deram uma bola fora – Minor Threat e Fudge Tunnel são dois bons exemplos. Em comum, tiveram trajetórias meteóricas e não arriscaram voltar aos palcos após anos e anos de inatividade. Sonic Youth nunca errou a mão, mesmo tendo 23 anos de carreira. Caso raro entre seus contemporâneos, manteve a consistência, vitalidade e lógica interna de sua sonoridade. Mesmo após sua obra prima, o álbum Daydream Nation (1988), tudo que a banda fez depois perseguiu de perto o estado de graça de seu melhor trabalho. Mais experimental em alguns registros, mais acessível em outros, a “Juventude Sônica” só parecia se dobrar ao peso da idade em Murray Street, lançado em 2002. Muito bom, mas sem a inventividade dos anteriores. Sonic Nurse, gravado e lançado este ano, recupera o ritmo.
A distorção permanece, assim como no trabalho anterior, porém o grupo continua soando mais contido. Parece que seus integrantes querem preservar os tímpanos após mais de duas décadas de detonação. O que foi retomado é a capacidade de surpreender seguindo o próprio caminho, como já fica patente em Pattern Recognition, faixa de abertura. Entretanto, é a segunda música, Unmade Bed, que nos traz de volta o Sonic Youth inspiradíssimo de sempre, equilibrando melodias delicadas e microfonia. Dripping Dream segue o mesmo esquema, sendo outro ponto alto, se é possível afirmar isto em meio a tantas pérolas. New Hampshire vicia com as guitarras encharcadas de adrenalina, característica primal do guitar noise rock.
Um dos grandes prazeres de pôr um disco do Sonic Youth para rodar é esperar Lee Ranaldo cantar, função assumida com mais freqüência por outro guitarrista, Thurston Moore, ou pela baixista Kim Gordon. Ele só dá as caras na oitava faixa, Paper Cut Exit. Peace Attack – grande título – fecha Sonic Nurse com classe, mas isto é tão pouco esclarecedor, é injusto não mencionar tantos detalhes impressivos presentes em todas as músicas... Enfim, pra encurtar a história, outro discaço em uma discografia impecável. Não que Velvet Underground não seja o Velvet, que Television e Richard Hell and the Voivods não tenham marcado época, que o abissal Mars já não explorasse sendas estranhas em um ponto perdido dos anos 1970, mas Sonic Youth supera em muito seus predecessores diretos – e também seus seguidores - como o grande nome do rock de Nova Iorque.
Daniel Souza Luz

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O "novo" Dream Theater

Desde a saída de Mike Pornoy do Dream Theater, muitos se perguntavam quem estaria à altura de substituí-lo. Há poucos meses tivemos a notícia que Mike Mangini era o novo baterista, decisão anunciada por meio de um mini reality show documentando o processo de audição de novos bateristas. Poucos questionariam a competência técnica de Mangini, mas uma dúvida que muitos fãs provavelmente nutriam era se Mangini cumpriria também a função de compositor que Portnoy tão assiduamente desempenhava na banda.

Os frutos da união de Mangini ao Dream Theater podem ser ouvidos em "On The Back of Angels", novo single do Dream Theater, revelado no último dia 28. A música é, em uma palavra, modesta. À primeira audição ela me lembrou o álbum Falling into Infinity, que tinha um andamento geral bem mais cadenciado que a maior parte dos trabalhos recentes do Dream Theater. Outro autor deste blog a comparou ao som de outro álbum, Images and Words, do começo da carreira do Dream Theater, que também apresentava uma pegada mais leve. Os dois primeiros minutos da faixa realmente soam como coisas que se ouviria no começo da carreira do Dream Theater, mas diferentemente a música toda é tecnicamente tímida.

Tais "timidez" e "modéstia" estão ainda mais óbvias na bateria de Mangini. Comenta-se que as baterias do álbum teriam sido todas programadas por John Petrucci durante o processo de composição e que Mangini teria apenas gravado as linhas já compostas. Se essa for a verdade, ainda não sabemos o real potencial do baterista junto à banda, coisa que talvez só vejamos no álbum seguinte. Mas, levando em conta o histórico do músico em outros projetos, fui instruído a não esperar muito mais do que se pode ouvir nessa faixa. Poderia ser injustiça julgar o álbum todo apenas por essa faixa, mas deve-se também lembrar que a banda, ao escolhê-la como single, a elegeu como representante do trabalho todo.

Enfim, julguem vocês mesmos:

sábado, 25 de junho de 2011

E o Anthrax "voltou"...

O Anthrax nunca deixou de existir de fato. Mas já se foram oito anos desde seu último disco de inéditas, We've Come for You All, e de lá pra cá os caras tiveram diversos problemas em fixar um novo vocalista, já que John Bush decidiu sair e seu substituto Dan Nelson não foi mais do que um enorme engodo.

O resultado disso foi o retorno de Joey Belladonna, que logo pegou a estrada com o Anthrax nos shows com o Big4 e aparece aqui em Fight’em ‘til You Can’t, primeira música disponibilizada do próximo disco, Worship Music, que tem lançamento programado para 13 de setembro.

E Belladonna soa muito bem (assim como no DVD do Big4) me fazendo pensar que dificilmente o disco resultante dessa reunião renderá críticas negativas. Principalmente porque o primeiro sinal de que Worship Music será um bom disco está aqui, nesta música!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Rage em Sampa, 19/06/11


O Brasil tem recebido uma quantidade enorme de shows internacionais. E dois efeitos são observados graças a isso. O primeiro é a diminuição do público; é visível que menos gente tem ido aos shows, mesmo quando os preços não são tão exorbitantes assim. Com tanta oferta o público acaba se dividindo entre as opções naquela semana (ou mês).

O segundo efeito é que o público que comparece a um determinado show é composto, em sua maioria, de fãs e grandes apreciadores da banda ou artista que lá está se apresentando. E é engraçado notar que, mesmo com um número menor de pessoas, esse público seleto consegue se fazer presente com tanta força quanto uma multidão.

Estou comentando sobre isso porque foi exatamente o que pude notar no show do Rage, que rolou no último dia 19, no Carioca Club, em São Paulo. Não tenho números oficiais, mas acredito que o público daquela noite de domingo não ultrapassou setecentos presentes. Mas que, mesmo assim, curtiram o show de tal maneira que faziam a impressão de termos um público bem acima dos mil.

E o Rage correspondeu? Se pensarmos friamente, não. O show foi curto, com um set list que priorizou demais os dois últimos lançamentos, e presenciamos até um trainwreck numa das músicas mais obrigatórias dessa fase atual da banda.

Por outro lado, mesmo com todos os fatores negativos, Peavy, Victor Smolski e Andre Hilgers estavam claramente estupefatos e felizes com seu público. Eu nunca havia presenciado tamanha felicidade dos membros de uma banda em cima de um palco. Eles rivalizavam com o próprio público. Era como se eles também tivessem esperado tanto tempo para nos rever. E o encontro dessas duas situações, uma banda satisfeita por estar aqui, e um público seleto de fãs e admiradores, gerou um grande evento.

O início, com The Edge Of Darkness, Soundchaser e Hunter And Prey, já mostrava que Smolski estava inspirado. O russo estava insano no palco, sorrindo o tempo todo e interagindo o tempo todo com seus colegas de banda e o público. E Peavy, sempre simpático ao extremo, chegou a comentar que era impressionante o quanto nós conhecíamos as letras das músicas, inclusive melhor do que ele mesmo, fazendo alusão a um pequeno deslize que cometeu em Hunter And Prey.

Into The Light foi impressionante ao vivo, uma das melhores composições de Smolski em sua carreira no Rage. Drop Dead, Empty Hollow, Set This World On Fire, War Of Worlds e Carved In Stone, todo o set list baseado nos últimos discos de studio da banda (embora Speak Of The Dead tenha sido completamente ignorado), até que Peavy anunciou “some old stuff”. Daí vieram aquelas versões mezzo-medley de Solitary Man e Black In Mind, que foram ótimas, mas que poderiam ter rolado inteiras dessa vez.

Quando Peavy anunciou Down o público vibrou imensamente e pareceu nem se importar quando as coisas se confundiram no meio do solo. Down terminou de um jeito que nunca havia terminado antes, com solos de guitarra, baixo e bateria. Tudo em meio a muito apoio do público, que gritou e cantou o tempo todo. Ao final, com Peavy de olhos arregalados e Smolski rindo absurdamente no palco, via-se que nada mesmo poderia atrapalhar aquele show.

Higher Than The Sky era o final planejado e o que todos esperavam. Todos queriam cantar o refrão e impressionar a banda. E foi o que aconteceu. Mas não era o final ainda, e depois de tocar várias intros de músicas famosas (entre elas Run To The Hills, We’re Not Gonna Take It e Painkiller), o Rage terminou seu show com Highway To Hell, como vem fazendo em algumas apresentações em festivais e no cruzeiro 70.000 Tons Of Metal.

Em meio a elogios de “melhor público de um ano e meio de tour” e promessas de começar a próxima turnê em São Paulo, o trio deixou o palco completamente satisfeito. E o público, que ainda pediu por Don’t Fear The Winter sem ter sido atendido, também saiu satisfeito, pois assistiu a um show que tinha tudo para ser péssimo, mas que foi excepcional.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Soundgarden, de volta

O recentemente ressurgido Soundgarden liberou um vídeo de sua performance de "Fell on black days" no festival Lollapalooza 2010. Confira abaixo:

Desde sua volta, ano passado, a banda lançou uma coletânea, "Telephantasm", e o ao vivo "Live on I-5", que contém apenas registros antigos, da turnê do último álbum, Down on the upside (1996). Agora, finalmente estão gravando um novo disco que é o que eu, pelo menos, estou aguardando.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Arte das capas: Dave Mckean

O ilustrador inglês Dave Mckean foi um dos revolucionários que viraram os quadrinhos norte-americanos do avesso no fim dos anos 80. Seus principais trabalhos, “Asilo Arkham”, com roteiro de Grant Morrison e “Orquídea Negra”, escrita por Neil Gaiman, além de todas as capas da série de Gaiman “Sandman”, ajudaram a estabelecer novos limites para as HQs como forma de arte, misturando pintura, desenhos, colagens e sobreposição de imagens para criar experiências visuais diferenciadas.

Mas ele também aplicou seu talento em outras áreas. Entre as quais, a criação de capas para LPs e CDs de artistas variados. No metal, a importância do seu trabalho é de especial importância, por ter influenciado uma boa parte dos artistas que se seguiram, especialmente depois que o advento do Photoshop possibilitou conseguir, por meio do computador, resultados semelhantes aos que ele já obtinha artesanalmente há mais de 20 anos. Usar a sobreposição de imagens para gerar efeitos surreais virou regra. Artistas como o brasileiro Gustavo Sazes (http://www.abstrata.net/) devem muito a Dave Mckean.

Para conhecer melhor o trabalho deste grande artista, visite http://www.mckean-art.co.uk/




segunda-feira, 25 de abril de 2011

Abandonando o navio

Na última semana, três boas bandas sofreram baixas significativas em seu line-up. Para começar, o vocalista Roy Khan, finalmente, anunciou sua saída do Kamelot. OK, isto não foi nenhuma surpresa, já que os americanos vinham excursionando sem seu vocalista norueguês, substituído por convidados, há algum tempo. Khan era o grande responsável pela identidade diferenciada da banda dentro do “universo cópia carbono” do heavy metal melódico, tendo um estilo muito pessoal, que já havia mostrado à frente do ótimo Conception. Mas se afastou da banda alegando esgotamento, e nem chegou a iniciar a turnê do último disco, “Poetry for the poisoned”.

Roy Khan, ao centro: fora.

As perspectivas para o Kamelot não são boas, se o caminho escolhido por eles daqui para frente for o mesmo seguido ao recrutar seu principal vocalista (supostamente) temporário, que foi Fabio Lione, do Rhapsody (of Fire). Substituir um vocalista único por um que pode até ser bom, mas é a própria encarnação dos clichês do estilo, não foi uma idéia feliz.

Mais surpreendente foi a notícia de que o guitarrista Jeff Loomis e o baterista Van Williams não fazem mais parte do Nevermore, reduzindo a banda ao vocalista Warrel Dane e o baixista Jim Sheppard, que está afastado por problemas de saúde. Ou seja, o Nevermore hoje se resume a Warrel Dane.

Jeff Loomis e Van Williams, 1º e 2º à esquerda: fora.

Os ex-membros alegaram “crises internas e problemas recorrentes” como as causas do rompimento. Pelo visto, já havia um racha entre os músicos, mas isto não era algo que viesse a público, anteriormente. O que transpareceu, e pode ser conseqüência das crises e problemas que os afetavam, foi uma queda na qualidade dos registros. O mais recente, “The obsidian conspiracy”(2010), mesmo tendo qualidades, rompeu com a tradição do Nevermore de sempre apresentar algum elemento novo e interessante em seus discos, sem perder seu estilo. É apenas mais do mesmo, e perde inclusive para os trabalhos solo de Dane (“Praises to the war machine”, de 2008) e Loomis (“Zero order phase”, instrumental, também de 2008).

Fica a dúvida sobre a possibilidade de existir um Nevermore sem os músicos que moldaram a sonoridade da banda.

Outra surpresa foi o Judas Priest, já em uma grande turnê de despedida das grandes turnês (vai entender...), perder seu guitarrista original, K. K. Downing, que decidiu se aposentar antes do restante da banda. Especulações sobre o estado de saúde do músico de 59 anos foram rechaçadas pelo próprio, que justificou sua decisão por estar tendo problemas de comunicação e relação com os colegas e seus empresários. O que faz parecer que a lendária banda anda se digladiando pelos dividendos da grande despedida. E não pouco, a ponto de levar alguém a abandonar, tão perto do fim, algo a que se dedicou por 43 anos.

K. K. Downing, 1º à esquerda: fora.

Pena, pois naquela que provavelmente será a última passagem do Judas pelo Brasil, repetindo a dobradinha com o Whitesnake que ocorreu em 2005, teremos um guitarrista substituto, um certo Richie Faulkner. Não é muito animador, mas eu vou estar lá, dia 10 de setembro.

Por outro lado, isto significa que a aposentadoria dos outros integrantes deve mesmo ser iminente. Dificilmente se pode pensar em um novo disco sem Downing. Se era mais uma daquelas despedidas de mentira, agora provavelmente será bem real.

sábado, 16 de abril de 2011

Joelho de Porco – “São Paulo – 1554/Hoje”

O Joelho de Porco aparece na Wikipédia como “um dos maiores grupos do rock-humor brasileiro”. Nada mais injusto. Embora suas letras contenham doses cavalares de humor, o Joelho foi sim uma das maiores bandas de rock que esse país já teve, e seu humor inteligente, bem diferente de coisas infantis como os Mamonas Assassinas da vida, estava contido em letras muito bem escritas. Sua discografia é bissexta e de qualidade irregular, mas este “São Paulo – 1554/Hoje”, de 1976, é sem dúvida um dos melhores discos de rock gravados no Brasil.

O núcleo central da banda eram o baixista e compositor Tico Terpins e o vocalista (que também fora baterista) Próspero Albanese. A performance do cantor, em especial, é espetacular. Músicas como “Aeroporto de Congonhas”, “Boeing 723897” e “São Paulo by day” são hinos do cotidiano maluco na metrópole. “Cruzei meus braços... fui um palhaço” e “A lâmpada de Edison” misturam ironia e poesia de forma única.

Outro erro que frequentemente se comete com o Joelho é considerar a banda como “precursora do punk brasileiro”. O que se ouve aqui é hard rock dos bons, bem composto e bem executado. Músicos acima de qualquer suspeita, como Mozart Mello e Wander Taffo, passariam pela banda no futuro, mas este disco conta com o guitarrista original Walter Baillot, que em nada fica devendo aos seus sucessores.

Como aperitivo, fiquem com a guitarraria insana e a crítica à classe média de “Meus 26 anos”:

quinta-feira, 14 de abril de 2011

The Ride

O Mindflow cresce de qualidade a cada álbum. Seu último disco, 365, é mais direto e menos prog que o anterior, Destruction Device. E isso não é demérito. O acréscimo de peso em músicas sensivelmente mais curtas permite uma assimilação bem mais rápida.

Não que a simplicidade tenha tomado conta do som do Mindflow. Não é isso. Toda a técnica do quarteto está lá e as composições ainda abraçam características do prog metal em diversos momentos do disco. Mas a sensação é a de que os caras quiseram ir direto ao ponto.

E, na minha humilde opinião, eles acertaram completamente. The Ride, faixa que ganhou videoclipe com cenas tiradas das turnês, é uma das que melhor define o rumo que o som do Mindflow tomou nesse disco.