domingo, 29 de janeiro de 2012

Angela Gossow, os urros do Arch Enemy


Lembro-me com detalhes de uma conversa que tive com um amigo em 2000, quando o Arch Enemy anunciou Angela Gossow como nova vocalista da banda. E essa conversa foi baseada em dúvidas e preconceitos pelo fato de ser uma mulher assumindo os vocais de uma banda que, até então, havia contado com os urros de um homem.

O último disco do Arch Enemy com Johan Liiva nos vocais foi Burning Bridges, de 99, e era considerado como um dos melhores representantes do Gothenburg Sound, movimento que estava em alta naquela época. Exatamente por isso a suspeita era grande, já que ninguém podia imaginar que uma mulher conseguisse executar vocais tão legais (e brutais) quanto os registrados em Silverwing, The Immortal ou Demonic Science, faixas de destaque em Burning Bridges.

Mas hoje, doze anos e cinco discos depois, ninguém mais pensa que Angela Gossow está no lugar errado. E ninguém mais pensa se é uma mulher urrando a frente do Arch Enemy. A alemã conquistou rapidinho o respeito dos fãs e contribuiu muito para o crescimento que a banda encontrou desde a sua entrada.

E não poderia ser diferente. A vocalista, dona de muita presença, seja pela qualidade vocal, postura ou beleza, garantiu um acréscimo de agressividade ao som do Arch Enemy que poucos poderiam imaginar. Desde sua estréia em Wages Of Sin (01), a banda só aumentou seu status e a base de fãs.

E se Wages Of Sin foi a estréia, Anthems Of Rebellion (03) e Doomsday Machine (05) foram os responsáveis por consolidar a vocalista como a nova “cara” da banda. Esses dois discos apresentaram várias músicas que se tornaram clássicos, como Silent Wars e Nemesis, e ainda figuram como os dois melhores registrados pelo Arch Enemy, muito à frente dos três primeiros, com Liiva nos vocais.

Hoje é natural pensar em Arch Enemy com Angela Gossow. E a idéia de preconceito e dúvida sobre sua qualidade acaba parecendo algo bobo e descabido. Mas isso existiu e na época os fãs ficaram divididos. De um lado ficaram aqueles que simplesmente desistiram da banda; do outro, aqueles que primeiro queriam saber o que ia acontecer dali em diante para depois julgar. Foram poucos os fãs incondicionais.

Mas gosto de pensar que, independente do lado escolhido, 100% dos fãs acabaram aprovando a vocalista. E, de fato, Angela Gossow não merecia nada diferente disso.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A Rose For Epona

Em 2008 quando lançou Slania, seu segundo álbum, o Eluveitie começava a passar da fase de “banda iniciante” para a de “banda promissora”. Na Europa o folk metal se fortalecia cada vez mais e a banda suíça dava seu primeiro passo com a Nuclear Blast, o que garantiu boa visibilidade dentre as tantas novidades no estilo.

No entanto, aqueles que descobriram a banda em seu primeiro álbum, Spirit, de 2006, chiaram um pouco, pois nesse segundo disco algumas mudanças no som já podiam ser notadas. Mudanças suaves, mas que significavam indícios de que algo maior poderia vir.

Os lançamentos seguintes confirmaram essa tendência do Eluveitie. Embora Evocation I tenha sido totalmente focado na parte folk, acústico e com ênfase nos vocais femininos, Everything Remains (As It Never Was) mostrou um apelo muito maior, com melodias mais simples e grudentas, maior participação das vocalistas (o que significou menos vocais guturais) e um distanciamento da parte mais extrema do tipo de heavy metal que a banda executava em seus primeiros discos.

E essa mudança parece vir com mais força no novo álbum, Helvetios, previsto para ser lançado na Europa em 10/02. Tal suposição é baseada na faixa escolhida para o primeiro clipe, A Rose For Epona, que não é uma música ruim, mas que é sensivelmente mais moderna, bastante semelhante ao que fazem os italianos do Lacuna Coil. Nem mesmo a “parte folk” da música serve para aproximar a composição aos bons momentos de Spirit e Slania.

Claro que se trata de uma análise antecipada, já que uma música apenas não serve de amostragem para julgar um disco todo. Mas minha torcida é que o restante do disco não seja na linha de A Rose For Epona.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Tattoo

Depois de muita enrolação, muitos ensaios, muitos atrasos, eis que o Van Halen (e cada vez mais Van Halen de fato) aparece com algo novo e concreto, o clipe de Tattoo. A música é o primeiro single do novo disco da banda, A Different Kind Of Truth, previsto para o começo de fevereiro.

Embalada por um clipe que mais parece uma versão atualizada de Jump, Tattoo é uma música simples, que não mostra a genialidade que é sempre atribuída a Eddie Van Halen, mas que dificilmente vai passar em branco.

Esse single já vem acompanhado de uma série de polêmicas. Fãs acusam a banda de ter apenas reaproveitado uma música antiga e nunca utilizada, ao invés de criar algo novo (o que o Megadeth fez muito bem em seu último disco, aliás). E algumas críticas reclamam da falta dos backing vocals de Michael Anthony, excluído desse retorno do Van Halen para a estréia do baixista Wolfgang Van Halen, filho de EVH.

Mas se a música não é genial, David Lee Roth pelo menos faz sua parte com dignidade. Longe de sua época áurea, o vocalista acerta com tons mais confortáveis e boa interpretação, já que os anos de alcance e potência ficaram pra trás.

Não é ruim, mas hoje existe o Chickenfoot...

domingo, 8 de janeiro de 2012

Forbidden, o último disco do Black Sabbath


O final de 2011 trouxe a notícia de mais uma reunião do Black Sabbath. Sim, a formação original se reuniu e, para 2012, promete um disco novo de músicas inéditas (com produção de Rick Rubin) e uma turnê mundial. Provavelmente tudo isso será seguido por uma nova separação, mas isso, embora bastante rotineiro na história da banda, já é outra fábula.

E esse anúncio de um disco de músicas inéditas do Black Sabbath fez minha memória funcionar. Com exceção feita à meia dúzia de músicas lançadas em discos ao vivo e coletâneas (se não me engano em Reunion, de 1998, e em The Dio Years, de 2007), o Black Sabbath não apresenta um trabalho inédito desde o altamente desvalorizado Forbidden, de 1995.

E é em Forbidden que eu queria chegar. O último álbum de verdade do Black Sabbath. Curiosamente, um disco que eu tinha acabado de redescobrir, após muitos e muitos anos sem ouvi-lo.

Lançado pela I.R.S. Records, Forbidden tinha em sua formação apenas Tony Iommi da formação original, ou seja, aproximadamente 60% do Black Sabbath (sim, é a minha matemática aplicada aqui). No baixo estava o experiente Neil Murray; na bateria o igualmente rodado Cozy Powell. E, no vocal, o contestado Tony Martin, que embora não fosse 100% aceito pelos fãs, fazia seu melhor em interpretações bem condizentes com as músicas do disco.

E hoje em dia me pergunto o porquê de Forbidden ser um álbum tão obscuro na discografia da banda. Ele tem muitas das características clássicas do Black Sabbath, além de diversos outros acréscimos. Mas, obviamente, a participação de Ice-T em The Illusion Of Power, além do descontentamento com o resultado final do disco de alguns dos próprios membros da banda à época (sobretudo com relação à produção de Ernie C, realmente abaixo da média) ajudaram a formar sua má reputação.

Mas é uma reputação merecida? Eu acredito que o tempo desgastou os fatores inerentes à época e que hoje o disco pode ser visto como um belo trabalho de uma das formações mais interessantes que o Black Sabbath já teve. Afinal, essencialmente, um bom disco é aquele formado por boas músicas. E isso Forbidden tem.

A primeira delas, inclusive, é a já citada The Illusion Of Power, com seu andamento extremamente carregado e sombrio, mostrando aquele Black Sabbath que é a base em que se formou o doom metal. Diga-se de passagem, Ice-T mal aparece na música, fazendo apenas alguns backing vocals e uma passagem narrada curta.

Tony Iommi, como sempre, mantém a fama de mestre dos riffs com alguns realmente memoráveis, como em Get A Grip, Shaking Off The Chains e Sick And Tired (essa também com um solo muito bonito). Um bom gosto que, por si só, já é quase garantia de qualidade.

Outro ponto alto é a bela participação do finado Cozy Powell, acrescentando pedais duplos bem utilizados aqui e ali, expediente não muito comum na discografia do Black Sabbath.

Enfim, embora tenha muitas qualidades, Forbidden ainda é desconhecido pela grande maioria, mesmo com a facilidade que a internet oferece. E, mesmo se tratando de um disco que merecia ser lembrado mais vezes pelo fãs do Black Sabbath, em breve perderá sua maior característica, que é ser justamente o último disco de músicas inéditas da banda, entrando cada vez mais num esquecimento forçado e injusto.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Bad Guys Wear Black

O Primal Fear não é a banda que vai mudar os rumos do heavy metal, mas é incrível como eles conseguem manter um alto padrão em seus discos (embora tocando sempre o mesmo metal tradicionalzão altamente inspirado pelo Judas Priest).

E no novo álbum, Unbreakable, Mat Sinner parece ter vencido o problema nas guitarras com a solidificação da parceria com o guitarrista sueco Magnus Karlsson (Allen/Lande, Starbreaker), iniciada no disco anterior, 16.6 (Before the Devil Knows You're Dead).

O clipe de Bad Guys Wear Black já está circulando desde dezembro, mas o lançamento do álbum será no próximo dia 20. E por essa amostra podemos esperar por mais um bom disco (embora, repito, não vai ser inovador, surpreendente ou de vanguarda; vai ser apenas Primal Fear).

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Charred Walls Of The Damned, Cold Winds On Timeless Days


Os super grupos vieram, viram e, até agora, estão vencendo. A maioria chegou com status de projetos chiques e aquela conversa de “somos uma banda e não um projeto paralelo” e, após os primeiros lançamentos, estão se consolidando de fato.

Dentre todos, Chickenfoot e Black Country Communion são dois bons exemplos de super grupos que surgiram cercados de expectativas e conseguiram manter um padrão digno em seus lançamentos. Já o Adrenaline Mob, de Mike Portnoy e Russell Allen, lançou apenas um EP e ainda não parece sólido o suficiente para ser levado á sério como banda real; ainda.

E, à margem dessas formações de grande exposição na mídia, surgiu em 2010 o Charred Walls Of The Damned, projeto criado pelo baterista Richard Christy (Death, Control Denied, Iced Earth) em sua volta ao heavy metal. E a banda pode realmente ser chamada super. Além de Christy, o CWOTD conta com o excepcional Steve DiGiorgio, Tim “Ripper” Owens e Jason Suecof nas guitarras.

O primeiro disco, auto-intitulado, parecia um apanhado de várias coisas que Christy fez em suas bandas anteriores, e era cercado por exageros técnicos por todos os lados. Tem seus bons momentos, mas dá a impressão de que seria um disco muito interessante se fosse duramente editado. Já o segundo álbum, Cold Winds On Timeless Days, lançado em outubro de 2011, tem todas as qualidades do primeiro, mas quase nenhum de seus defeitos.

A verdade é que Cold Winds On Timeless Days é um disco de heavy metal digno de figurar entre qualquer lista de melhores do ano. Tim Owens está cantando de forma bem contida, mas não inferior por causa disso. Arrisco dizer que é sua melhor performance desde que ele surgiu para o mundo com Jugulator, do Judas Priest.

Christy e DiGiorgio dispensam elogios. Eles fazem exatamente aquilo que se espera deles, acrescentando tantos detalhes em suas partes que deixam todas as músicas com aquela sensação de que sempre há algo ainda não descoberto a ser encontrado em outras audições do disco. Mas é preciso ressaltar que suas partes nunca chegam a parecer exageradas, ao contrário do disco de estréia. Timeless Days, faixa de abertura, é um bom exemplo de técnica utilizada a serviço da qualidade musical.

Trata-se de um heavy metal que não chega a definir sua intenção em ser thrash metal, além de ter muito daquele metal norte-americano levado a cabo por Iced Earth e Jag Panzer. Christy chega até a flertar com o metal extremo em blast beats muito bem utilizados. Mas, independente do rótulo, basta apenas saber que é heavy metal muito bem feito.

O Charred Walls Of The Damned é muito, muito promissor.

domingo, 1 de janeiro de 2012

MOA: Maranhão Open Air

2012 será o ano que o Brasil sediará o primeiro evento exclusivo de heavy metal aos moldes dos grandes festivais europeus, o Metal Open Air, programado para acontecer entre os dias 20 e 22 de abril em... São Luís-MA! Sim, o maior evento especializado em heavy metal dos últimos anos acontecerá no Maranhão, ao invés dos prováveis São Paulo e Rio de Janeiro.

Há algo de errado com isso? Moralmente nada. O Maranhão pode oferecer aos produtores tanta infra-estrutura quanto paulistas e cariocas, e com certeza tem headbangers tão fiéis quanto qualquer outro estado brasileiro.

E, no entanto, por que é que fica a impressão de que algo está errado nisso?

No site oficial do evento há uma justificativa que é bastante elogiável, que diz que os headbangers do Nordeste do país merecem ser contemplados com um festival desse porte, já que tantas vezes tiveram que se deslocar para longe para poder conferir algo assim em estados do Sudeste brasileiro. Dessa vez o público do Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste é que deve se deslocar para conferir o grande evento.

Até aí tudo certo. O headbanger de qualquer estado é fiel o suficiente para juntar suas moedinhas e tentar ir até São Luís a fim de assistir às várias bandas que formam o cast (ainda parcial) do festival. Afinal, tanto do lado internacional quanto nacional foram confirmadas bandas de renome e qualidade suficiente para agradar a gregos e troianos.

E o cast é realmente impressionante, com Anthrax, Exodus, Krisiun, Blind Guardian, Korzus, Andre Matos, Grave Digger, Destruction, Drowned, entre outras bandas daqui e de fora que valem a pena ver ao vivo. Serão ao todo quarenta entre os três dias de evento.

No entanto, conforme as atrações foram sendo anunciadas para o cast do festival, alguns outros shows das mesmas bandas também foram sendo anunciados para São Paulo. Blind Guardian e Grave Digger por exemplo, tocam juntas na capital paulista. Anthrax é outra confirmada para São Paulo, no dia 27/04.

Se os principais nomes do festival forem confirmar presença na capital paulista, o headbanger do Sudeste irá ao Maranhão? Essa é a pergunta que eu e muito outros fazem. Devemos analisar também que entre março e abril serão vários finais de semana recebendo apresentações de bandas importantes. Iced Earth, Amon Amarth, Sodom, Opeth, Six Feet Under, Dimmu Borgir, Zak Stevens, Roger Waters, Lacuna Coil, Sisters Of Mercy, todas passam por São Paulo entre março e abril. Tudo isso vai fazer o cara pensar duas vezes antes de investir aproximadamente mil e quinhentos reais em um festival no Maranhão.

E isso tudo levanta a questão: o MOA vai valer à pena? Provavelmente sim, e se tornará uma memória incrível para aqueles que forem lá prestigiar o evento. Mas, infelizmente, a maior parte dos headbangers de Sul e Sudeste ficará mesmo com os shows isolados. Já os outros ainda terão que se deslocar por grandes distâncias, até conquistarem o direito de ganhar seu próprio festival.