domingo, 24 de outubro de 2010

Death Angel: São Paulo Bay Area

Em sua primeira passagem por São Paulo o Death Angel foi avassalador. Donos de um show potente, pesado e extremamente carismático, os thrashers norte-americanos impressionaram, e por sua vez, saíram impressionados com o público paulistano.

Liderados pelo vocalista Mark Osegueda e pelo excepcional guitarrista Rob Cavestany, o Death Angel subiu ao palco pouco antes das 21h30 e presenciou mosh pits e stage dives durante toda a sua apresentação. Até pensei, a princípio, que a freqüência e insistência dos brasileiros em cima do palco chegaria a incomodar os músicos. Mas eles não só incentivaram como Osegueda mesmo saltou em cima da galera no final da apresentação. Show de thrash metal não poderia mesmo ser diferente.

O set list priorizou dois períodos distintos e extremos da carreira da banda, priorizando os clássicos do primeiro disco, The Ultra-Violence (87), e do último, Relentless Retribution (10), mas não deixando de fora algumas faixas essenciais de seus outros álbuns.

I Chose The Sky, do novo álbum, foi a escolhida para abrir o show, seguida por Evil Priest e Buried Alive, num trinca que grande parte do público nem prestou muita atenção porque estava engajada numa roda tão grande que em alguns momentos a coisa parecia mesmo que duas torcidas uniformizadas rivais tinham se encontrado ali na frente do palco.

A pancadaria continuou com Voracious Souls e mais duas do novo disco, Relentless Retribution e Claws In So Deep. Seemingly Endless Time e Stop, primeiras a serem executadas do Act III (90), realmente tocaram o público, e pra mim esse foi o grande momento da noite. 3th Floor, This Hate e Throw To The Wolves, única do The Art Of Dying (04), formaram o final da primeira parte do show, quando a banda deixou o palco antes do encore.

Lord Of Hate, do Killing Season (08), reiniciou o show, mas já dando mostras de que o fim estava a poucas músicas dali, sobretudo porque a casa de show abrigaria outro evento após a apresentação do Death Angel.

Falling Asleep, Truce, Thrashers e Kill As One, que teve parte de The Ultra-Violence como intro, finalizaram a apresentação do Death Angel de forma estupenda, conseguindo arrancar reações muito emocionadas por parte do público, fãs que há vinte anos esperavam para ver esse ícone do thrash metal da Bay Area norte-americana.

E se o disco novo do Death Angel não agradou tanto assim, se comparado aos clássicos, é impossível dizer que as músicas novas não funcionem ao vivo, pois a banda faz tudo parecer clássico em cima do palco. A dupla Osegueda e Cavestany centraliza as atenções facilmente, com performances amplas e energéticas, enquanto o guitarrista Ted Aguilar faz suas bases entre headbangings e arremessos de palhetas para o público.

Muitos dos presentes, no entanto, sentiram a falta de Dennis Pepa e Andy Galeon, baixista e baterista da formação clássica da banda. Mesmo assim, é injusto que seus substitutos Damien Sisson e Will Carroll não sejam citados aqui, pois cumpriram seus papéis com qualidade de sobra. O baixista, sobretudo, deve ser muito citado nos comentários dos presentes, pois sua presença de palco é furiosa e totalmente condizente com a postura de thrasher.

Um dos melhores shows que tive a oportunidade de assistir. Espero que a promessa de Osegueda de que o Death Angel voltará logo a São Paulo seja realmente cumprida.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Symphorce, Unrestricted

Desde que foi criado, em 98, pelo vocalista Andy B. Franck após deixar a banda de prog metal alemã Ivanhoe, o Symphorce nunca conseguiu atingir um posto de grande destaque. Mesmo mantendo uma razoável regularidade e uma sensível evolução na qualidade de sua música, o quinteto alemão parece não muito preocupado em usar todos os elementos que seriam capazes de agradar de forma mais direta e fácil o seu público alvo.

Por outro lado, não agradar a todos nunca foi sinônimo de qualidade no heavy metal, de forma que o Symphorce chega muito bem ao seu sétimo álbum mantendo diversas características que se tornaram elementos chaves de sua música, mas conseguindo agregar novos e resgatar detalhes abandonados ou suavizados em momentos anteriores.

Unrestricted é, sem dúvida alguma, um bom álbum. Não consegue superar a dupla anterior, GodSpeed (05) e Become Death (07), mas graças a uma regularidade impressionante que o Symphorce consegue imprimir em seus trabalhos, é possível colocá-lo lado a lado a qualquer um de seus antecessores sem que suas disparidades sejam percebidas sem o emprego de muita atenção.

A primeira faixa, The Eternal, é típica dos alemães. A cadência prioriza o peso, destacando o baixo de Dennis Wohlbold e o peso das guitarras, enquanto os tradicionais efeitos eletrônicos pontuam positivamente.

Until It’s Over, The Last Decision e Worlds Seem To Collide destacam a qualidade criativa dos guitarristas Cedric C. Dupond e Markus Pohl, que nunca se rendem ao exibicionismo. Em certos momentos pode-se notar um flerte com as guitarras típicas do power metal alemão, como no riff e no refrão de The Waking Hour.

Em diversos momentos de Unrestricted é possível encontrar uma sonoridade que mescla o tradicionalismo do heavy metal com passagens soturnas semelhantes à de bandas como o Paradise Lost. Tal característica marcou o primeiro álbum do Symphorce, Truth Of Promises (99) e nunca foi abandonada pela banda, embora tenha sido suavizada em seus últimos trabalhos. Neste novo álbum, no entanto, podemos notar tal sonoridade em várias faixas, mas Whatever Hurts é a que mais se destaca nesse aspecto.

E Andy B. Franck merece seu próprio parágrafo, já que é em Unrestricted que ele conseguiu registrar sua melhor performance até hoje, soando muito confortável nessa sonoridade moderna e cadenciada que sua banda pratica. É possível deduzir que no Symphorce Franck é livre para ousar com sua voz, indo desde seus costumeiros agudos até os vocais mais agressivos e emocionais de Do You Ever Wonder, ao contrário do que acontece em sua outra banda, o Brainstorm, onde o vocalista parece seguir uma linha vocal mais tradicional do heavy metal.

Unrestricted não vai colocar o Symphorce entre as bandas mais populares do heavy metal, sobretudo porque sua proposta de incrementar o metal tradicional com modernismos ainda é vista de forma desconfiada por grande parte do público headbanger. No entanto, os fãs da banda não ficarão insatisfeitos, pois se trata de um disco elegante, pesado e tecnicamente impecável, o que, em outras palavras, é a mesma coisa que dizer que se trata de um típico trabalho do Symphorce.

Imagens: http://www.myspace.com/symphorcepower

sábado, 9 de outubro de 2010

Estaria o Rage trilhando o caminho do Savatage?

Em 1999, próximo ao lançamento do álbum Ghosts, Peavy Wagner se viu sozinho no Rage quando o restante da banda resolveu largar mão do heavy metal e se dedicar a uma banda de pop rock. Peavy, àquela altura, era a figura central acumulando grande parte da composição de música e letra da banda, então os fãs acabaram sentindo mesmo apenas a saída do baterista Chris Efthimiadis. Chris já era membro de longa data do Rage e fizera parte da formação considerada clássica (com o guitarrista Manni Schmidt) participando de álbuns como Perfect Man (88) e The Missing Link (93), álbuns até hoje saudados e, no ponto de vista de alguns fãs mais tradicionais, nunca superados.

Para o lugar de Chris veio Mike Terrana, que hoje já não está mais no Rage, e para o lugar da dupla Sven Fischer e Spiros Efthimiadis foi chamado o guitarrista russo Victor Smolski.

Smolski era razoavelmente desconhecido, mas conquistou seu espaço e, aos poucos, foi se tornando cada vez mais importante para o Rage, tornando-se o produtor, o principal compositor e, possivelmente, a chave para o sucesso tardio que a banda tem encontrado nos últimos anos. As conquistas do último álbum, Strings To A Web, lançado no início desse ano, são indicadores dessa façanha, tendo levado a banda aos trinta primeiros nos charts comuns da Alemanha e a uma renovação de seu contrato com a Nuclear Blast, a grande gravadora de heavy metal na atualidade.

Mas uma das grandes conquistas de Smolski me incomoda por se parecer demais com uma história já conhecida e documentada com um final infeliz.

O guitarrista tornou-se o grande parceiro de Peavy na fusão de heavy metal com orquestra, algo que sempre esteve em pauta com o Rage. E, nos últimos álbuns, Smolski manteve essa ligação com músicas como Lord Of The Flies e Empty Hollow. Junto a isso, a banda vinha tocando em shows muito procurados acompanhados de orquestra. Essa união havia sido batizada de Lingua Mortis Orchestra ainda em 96, quando Peavy havia realizado seu sonho de unir o Rage aos instrumentos clássicos no álbum Lingua Mortis.

Graças a esse sucesso, e não querendo prejudicar o heavy metal da banda, Peavy e Smolski decidiram que a Lingua Mortis Orchestra, a partir de então, será um projeto à parte, com seus próprios álbuns e shows, deixando o Rage livre para seguir adiante sua história.

A LMO terá seus lançamentos também através da Nuclear Blast e, sendo desvinculada do Rage, embora sendo em essência o próprio Rage, terá outros músicos convidados, ampliando o potencial das músicas, que serão totalmente orquestradas.

Em essência uma história muito parecida com o que aconteceu com o Savatage e o projeto Trans-Siberian Orchestra, que culminou com o fim da banda e o sucesso estrondoso da TSO.

No entanto, à época, a banda norte-americana não passava por um período muito bom. Embora tivesse lançado três grandes álbuns na seqüência, Dead Winter Dead (95), The Wake Of Magellan (98) e Poets And Madmen (01), a formação sofria com as idas e vindas do guitarrista Al Pitrelli, e a saída de Zak Stevens, a voz principal da banda desde 93. Isso aliado à demanda pela TSO fez com o Savatage entrasse num torpor que o mantém inativo até hoje.

Já a banda alemã desfruta de uma situação diferente, com um crescimento bastante notável com os últimos álbuns e uma formação até então sólida (o último membro a entrar na banda, o baterista Andre Hilgers, já gravou dois álbuns e foi totalmente aceito pelos fãs). São indícios de que sua carreira pode não ser ofuscada pela Lingua Mortis Orchestra e que esses dois lados do Rage poderão coexistir sem problemas conjugais.

Mas que a história é assustadoramente parecida com a do Savatage, isso é.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

E o mundo perde Steve Lee

Ainda não completamente recuperado da perda de Ronnie James Dio, o mundo perdeu outra das grandes vozes do rock: Steve Lee morreu ontem nos EUA em uma viagem de moto.

E se o vocalista da banda de hard rock suíça Gotthard não tinha um histórico tão grandioso quanto Dio, o mesmo não podia ser dito de suas qualidades como cantor. Lee era o grande destaque de sua banda tanto em estúdio quanto nos shows, mostrando que estar à frente de uma banda era a sua grande vocação.

Lee não será lembrado apenas por ser um grande cantor de hard rock no Gotthard, mas também por sua espetacular contribuição no projeto Ayreon, de Arjen Lucassen, no álbum 01011001, mostrando uma versatilidade que poucos botavam fé.

Um grande vocalista.

Steve Lee 1963-2010