quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Jorn Lande e o MKIII do Masterplan

Qual terá sido o motivo que levou Jorn Lande a voltar para o Masterplan? Não tenho dúvidas de que sua volta vai fazer algum bem para a banda de Roland Grapow. Mas não consigo entender completamente esse retorno.

O cantor norueguês passou grande parte de sua carreira tentando ser um clone de David Coverdale e Ronnie James Dio. E, graças a uma voz privilegiada e uma incontável quantidade de aparições em discos e shows, o cara conseguiu seu lugar ao sol, sendo considerado hoje um dos grandes vocalistas do rock e heavy metal.

Essa carreira levou Lande a duas posições invejáveis: uma de voz muito requisitada pela indústria do rock; outra de dono de uma banda que se sustenta sozinha e que é claramente uma das grandes apostas de sua gravadora, a italiana Frontiers Records.

Uma das provas de que Lande atingiu um bom status foi o convite de Tony Iommi e Geezer Butler para a homenagem que o Heaven & Hell fez ao falecido Dio, onde o norueguês dividiu os vocais com o imortal Glenn Hughes. Além disso, sua carreira solo com a banda Jorn tem rendido frutos e recentemente a Frontiers bancou o lançamento do álbum-homenagem-picaretagem Dio, onde Lande canta alguns dos clássicos de Ronnie James Dio, além de uma música inédita feita em homenagem ao seu ídolo.

Entendo que fica claro que Lande não precisa do Masterplan tanto quanto o Masterplan precisa de Lande, já que a experiência da banda com outro cantor, Mike Dimeo, não foi bem sucedida, resultando em um álbum irregular (MKII) e uma turnê decepcionante. Então é justo perguntar o porquê desse retorno, uma vez que sua saída em 2006 foi por não pensar da mesma forma que o restante da banda. É certo que hoje o Masterplan já não conta mais com o baterista Uli Kusch, na época um dos “donos” do negócio e possivelmente um dos motivos que mantinham o vocalista longe da banda.

De qualquer maneira, Grapow tentou uma reaproximação com o seu antigo vocalista e conseguiu que Lande reassumisse seu posto. O primeiro resultado disso é Time To Be King, um álbum com um título pomposo demais e que se mostra um tanto quanto equivocado, porque o CD não garantiria nem mesmo um ducado à banda.

Não que o álbum seja fraco. Não é. Mas comparado ao primeiro disco da banda, ou ao último de inéditas da Jorn, Spirit Black, Time To Be King perde feio, sobretudo porque não fez jus à imensa expectativa que se criou com essa volta do vocalista. Até mesmo a performance do norueguês é menos interessante, criando no ouvinte uma vontade de ouvir outros trabalhos onde o vocalista é muito melhor aproveitado, como Burn The Sun, o segundo álbum do Ark, por exemplo, um dos grandes discos da década.

E não citei o Ark por acaso, já que o guitarrista Tore Østby, o baixista Randy Coven, o tecladista Mats Olausson e o exímio baterista John Macaluso se reuniram no final de 2009 e em breve devem lançar seu próximo trabalho. Essa sim é a banda para qual Jørn Lande deveria voltar.

sábado, 14 de agosto de 2010

Push The Venom

Saiu o novo álbum do Kataklysm! Tenho que admitir que estou bastante ansioso por ouvir esse novo álbum dos canadenses, Heaven’s Venom. Os caras estão numa fase acima da média e os dois álbuns anteriores, In The Arms Of Devastation (2006) e Prevail (2008), criam a expectativa de que esse novo será um dos clássicos da banda.

E potencial para ser o melhor álbum da banda existe. Premiados recentemente pela Nuclear Blast pelos 15 anos em seu cast, suas turnês estão cada vez maiores, inclusive como atração do atual Ozzfest, e os orçamentos para produção do álbum e respectivos lançamento foram visivelmente maiores. Prova disso é o clipe de Push The Venom, de direção de Ivan Colic, responsável por Another Strange Me, do Blind Guardian, e Never Enough, do Epica, que é superior a tudo que a banda já havia feito antes nesse aspecto.

E, fora a parte visual, Push The Venom mostra de tudo um pouco que o Kataklysm costuma ter em seus álbuns. Diferente de Prevail, quando fizeram um clipe para a bastante melódica Taking The World By Storm, dessa vez escolheram uma mais direta e representativa do som que costuma predominar nos discos.

Tenho confiança de que Heaven’s Venom estará nos meus discos preferidos de 2010.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

That’s how rock ‘n’ roll is supose to be played

O Chickenfoot, como todos já devem saber a essa altura, é formado por quatro veteranos que se uniram para mostrar às novas gerações o que é o verdadeiro rock 'n' roll. Sammy Hagar, Michael Anthony, Joe Satriani e Chad Smith são músicos que já tem suas histórias devidamente marcadas na história do rock e não precisariam de mais nada para confirmar o fato. Mesmo assim gravaram um álbum estupendo e resolveram mostrar o impacto e o frescor que essas músicas alcançaram ao vivo no DVD Get Your Buzz On Live.

O show gravado foi o de Phoenix, nos EUA, e mostra uma banda que claramente não está tocando apenas por compromissos contratuais, pois é fácil de ver que os caras estão gostando muito do que estão fazendo. Tecnicamente não dá nem pra comentar, pois é tudo tão espontâneo, tudo tão descompromissado que a gente já fica feliz só de ver que eles estão muito satisfeitos por estarem ali juntos fazendo um rock muito honesto e empolgante.

E o show não tem frescuras. Desde o início com Avenida Revolution, até o final bombástico com My Generation, do The Who (quando Chad Smith faz sua homenagem a Keith Moon) o que vemos é apenas baixo, bateria, guitarra e voz, mas tudo feito por especialistas do assunto. Nada de danças coreografadas, figurinos e penteados especiais para cada música, ou instrumentos voando pelo palco, a música sozinha preenche toda a atenção sem precisar de mais artifícios.

E é muito bom poder ver Sammy Hagar á frente de uma banda novamente. O Red Rocker não é o manda-chuva, mas é claramente o cara que conduz o Chickenfoot ao vivo. E em músicas como Bitten By The Wolf, ou na antiga Bad Motor Scooter, de sua época de Montrose, vemos o porquê dele ser considerado como um dos grandes vocalistas do rock.

E no final do show, enquanto o público reverencia o quarteto, Hagar sintetiza a música do Chickenfoot numa única frase: “that’s how rock ‘n’ roll is supose to be played”. Mais correto impossível.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O vil Reign In Blood


Estive, no último sábado, numa dessas lojas grandes que costumavam ser livrarias e hoje podem ser consideradas completamente multimídia, vendendo desde livros até DVDs, CDs e jogos de videogame. E, andando pelos stands de ofertas, vi lá o Reign In Blood, um daqueles discos usualmente citados entre os cinco melhores de qualquer headbanger que se preze. 

Paguei então os quinze paus pelo álbum e o levei pra casa com um pensamento: por que raios eu nunca fui lá muito com a cara do Slayer?

Certo, certo, eu admito essa falha no meu caráter headbangerístico e posso dizer que hoje até eu mesmo me considero um poser, pois o Reign In Blood não é um dos clássicos malignos do heavy metal à toa: hoje eu compreendo isso completamente.

Não tem uma única faixa no álbum todo que possa se caracterizada como fraca. Mais do que isso, depois do início com Angel Of Death você acredita que o álbum só pode ir decaindo, mas o que acontece de fato é que ele vai melhorando e melhorando. E quando você termina de ouvir Postmortem achando que nada poderia superar aquilo tudo então vem o som da chuva e o riff sujo e cruel de Raining Blood fechando o álbum de forma assustadora.

Ao final a gente acaba concluindo que se algum álbum pode ser chamado de maligno em todo o thrash metal é esse aqui. Os riffs são sombrios, as partes cadenciadas são hipnóticas, os berros de Tom Araya são aterrorizantes, os solos da dupla King e Hanneman são caóticos e barulhentos e, por fim, mas não menos importante, a performance de Dave Lombardo é desesperadora, como se a vida dele dependesse de tocar os bumbos à velocidade da luz.

Mal do começo ao fim. Esse é o Reing In Blood, um dos imortais clássicos do heavy metal.

domingo, 8 de agosto de 2010

"Sepultura do Brasil! Um, dois, três..."

É de causar certo estranhamento ler comentários, cada vez mais frequentes, do Max Cavalera, sobre o quanto ele quer que o Sepultura volte, e como o Andreas Kisser fica atrapalhando algo que seria bom pra todos, que os fãs querem, e etc. (aqui, por exemplo).

Nada pessoal contra o Max. Mas esta postura que ele está assumindo agora parece querer esconder uma coisa: que todo o estrago, o declínio da banda, as dificuldades que seus ex-integrantes passaram, a orfandade em que os fãs, em certa medida, ficaram, tudo isto não foi causado por ninguém além dele próprio. É surpreendente ver o Max, todo inocente, culpando alguém por não querer voltar atrás em uma situação que foi criada por ele.

O caso é o seguinte: o Sepultura, no anos 90, estava a caminho de ser o próximo Metallica. Estava influenciando toda uma nova leva de bandas pesadas que surgiam, do Fear Factory aos caras que formariam o Slipknot. Não era uma banda grande por ter lançado grandes discos no passado, eles estavam lançando grandes discos naquele momento. Foi uma das poucas bandas fora do eixo EUA-Europa a se tornar mundialmente relevante, e entre estas deve ter sido a que mais se destacou.  

Em que pese a atitude de seus integrantes não ser a de carregar a bandeira do metal brasileiro, muito pelo contrário (quem viu o documentário Ruído das Minas sabe), o sucesso do Sepultura teve um impacto fortíssimo em termos de globalização do mercado da música pesada. E isto poderia ter ido além, a banda poderia ter encabeçado uma revolução. Poderia, se os desentendimentos não tivessem castrado sua carreira justamente quando se encontrava no auge.

E o culpado disso, quem pôs fim a este processo que teria sido ótimo para o metal mundial, e mais ainda para o Sepultura, foi o senhor Max Cavalera. Bem sucedida, a banda viu dinheiro de verdade começar a entrar e as possibilidades futuras se ampliarem. Só que, para Andreas, Paulo e Igor, havia um problema: serem empresariados pela esposa de um integrante, que nitidamente privilegiava o marido. A solução proposta por eles era altamente razoável (e eu nunca vi esta versão ser contestada): Glória Cavalera continuaria representando o vocalista, e outra pessoa representaria os interesses dos outros integrantes.  

A reação do Max, de considerar isto uma traição, de impor que sua esposa seria empresária da banda toda ou não haveria mais banda, foi infantil e autoritária. Demonstrou que ele não estava preparado para o status que a banda estava em vias de alcançar.

É estranho agora ver Max Cavalera defendendo o velho Sepultura contra o malvado Andreas Kisser, porque foi Andreas que continuou levando o nome da banda. Se não com o mesmo sucesso, se não alcançando tudo que lhes era possível nos anos 90, ao menos com dignidade, o que não é pouco. Paulo nunca foi uma liderança na banda. Igor há tempos não tinha mais interesse por heavy metal, o que acabou culminando na sua própria saída, anos depois. Quem se responsabilizou por não deixar o Sepultura morrer foi Andreas. Se dependesse do Max, o legado desta grande banda estaria morto e enterrado, por capricho.

Sei que muitos fãs prefeririam que não houvesse havido uma continuidade, com Derek Green nos vocais, que somente reconhecem como o verdadeiro Sepultura a banda que existiu até o Roots. Mas eu penso no que teria acontecido se a banda tivesse se separado. Cada integrante teria ido para um lado, talvez um ou outro houvesse abandonado a música. Esperariam até que Max descesse do pedestal, disposto dar uma nova chance aos “traidores” que o “abandonaram”? Aí sim haveria a grande volta do Sepultura, uma banda velha, fora de lugar? Não, foi melhor que tenham continuado a tocar, a buscar evoluir, mesmo tendo perdido o seu grande momento.

Max tem o Soulfly, tem o Cavalera Conspiracy. Ele deveria deixar o Sepultura de lado, porque ele deixou claro há anos que não precisa do Sepultura. E, além disso, e mais importante, que não merece o Sepultura.

Por sinal, o Soulfly existe há mais tempo do que o Sepultura antigo existiu. E Derrick Green já esteve no Sepultura durante mais tempo do que Max Cavalera.