domingo, 8 de agosto de 2010

"Sepultura do Brasil! Um, dois, três..."

É de causar certo estranhamento ler comentários, cada vez mais frequentes, do Max Cavalera, sobre o quanto ele quer que o Sepultura volte, e como o Andreas Kisser fica atrapalhando algo que seria bom pra todos, que os fãs querem, e etc. (aqui, por exemplo).

Nada pessoal contra o Max. Mas esta postura que ele está assumindo agora parece querer esconder uma coisa: que todo o estrago, o declínio da banda, as dificuldades que seus ex-integrantes passaram, a orfandade em que os fãs, em certa medida, ficaram, tudo isto não foi causado por ninguém além dele próprio. É surpreendente ver o Max, todo inocente, culpando alguém por não querer voltar atrás em uma situação que foi criada por ele.

O caso é o seguinte: o Sepultura, no anos 90, estava a caminho de ser o próximo Metallica. Estava influenciando toda uma nova leva de bandas pesadas que surgiam, do Fear Factory aos caras que formariam o Slipknot. Não era uma banda grande por ter lançado grandes discos no passado, eles estavam lançando grandes discos naquele momento. Foi uma das poucas bandas fora do eixo EUA-Europa a se tornar mundialmente relevante, e entre estas deve ter sido a que mais se destacou.  

Em que pese a atitude de seus integrantes não ser a de carregar a bandeira do metal brasileiro, muito pelo contrário (quem viu o documentário Ruído das Minas sabe), o sucesso do Sepultura teve um impacto fortíssimo em termos de globalização do mercado da música pesada. E isto poderia ter ido além, a banda poderia ter encabeçado uma revolução. Poderia, se os desentendimentos não tivessem castrado sua carreira justamente quando se encontrava no auge.

E o culpado disso, quem pôs fim a este processo que teria sido ótimo para o metal mundial, e mais ainda para o Sepultura, foi o senhor Max Cavalera. Bem sucedida, a banda viu dinheiro de verdade começar a entrar e as possibilidades futuras se ampliarem. Só que, para Andreas, Paulo e Igor, havia um problema: serem empresariados pela esposa de um integrante, que nitidamente privilegiava o marido. A solução proposta por eles era altamente razoável (e eu nunca vi esta versão ser contestada): Glória Cavalera continuaria representando o vocalista, e outra pessoa representaria os interesses dos outros integrantes.  

A reação do Max, de considerar isto uma traição, de impor que sua esposa seria empresária da banda toda ou não haveria mais banda, foi infantil e autoritária. Demonstrou que ele não estava preparado para o status que a banda estava em vias de alcançar.

É estranho agora ver Max Cavalera defendendo o velho Sepultura contra o malvado Andreas Kisser, porque foi Andreas que continuou levando o nome da banda. Se não com o mesmo sucesso, se não alcançando tudo que lhes era possível nos anos 90, ao menos com dignidade, o que não é pouco. Paulo nunca foi uma liderança na banda. Igor há tempos não tinha mais interesse por heavy metal, o que acabou culminando na sua própria saída, anos depois. Quem se responsabilizou por não deixar o Sepultura morrer foi Andreas. Se dependesse do Max, o legado desta grande banda estaria morto e enterrado, por capricho.

Sei que muitos fãs prefeririam que não houvesse havido uma continuidade, com Derek Green nos vocais, que somente reconhecem como o verdadeiro Sepultura a banda que existiu até o Roots. Mas eu penso no que teria acontecido se a banda tivesse se separado. Cada integrante teria ido para um lado, talvez um ou outro houvesse abandonado a música. Esperariam até que Max descesse do pedestal, disposto dar uma nova chance aos “traidores” que o “abandonaram”? Aí sim haveria a grande volta do Sepultura, uma banda velha, fora de lugar? Não, foi melhor que tenham continuado a tocar, a buscar evoluir, mesmo tendo perdido o seu grande momento.

Max tem o Soulfly, tem o Cavalera Conspiracy. Ele deveria deixar o Sepultura de lado, porque ele deixou claro há anos que não precisa do Sepultura. E, além disso, e mais importante, que não merece o Sepultura.

Por sinal, o Soulfly existe há mais tempo do que o Sepultura antigo existiu. E Derrick Green já esteve no Sepultura durante mais tempo do que Max Cavalera.

Nenhum comentário: